domingo, 16 de outubro de 2011
Desabafo
Tinha ânsia em colocar tudo o que sentia para fora de alguma forma. Toda aquela raiva angústia tristeza aperto no peito inconformidade descrença indignação desespero desesperança mágoa ódio lágrima dor medo frio calafrio palpitação arritmia falta de ar tremor calor suor melancolia drama melindre desprezo nojo arrependimento carência desproteção dúvida inquietação desejo desgosto confusão caos ânsia vazio coriza loucura silêncio tédio cansaço cobrança culpa vontade auto-piedade transtorno intolerância repugnância decepção desilusão dor de cabeça azia sono saudade submissão humilhação passividade dependência subordinação indisposição baixa alta estima solidão desagrado paciência fúria indiferença esperança devaneio quimera indecisão imprecisão hiperatividade instabilidade hipertensão insegurança nervosismo ira pena ausência desaceleração calma resignação suficiência plenitude lucidez tristeza dor ressentimento grito lágrima lágrima lágrima lágrima lágrima lástima.
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Sobre luzes, manhas e manhãs
A fresta de luz começava a infiltrar os pequenos vãos da janela do quarto, como se o Universo quisesse lenta e gradualmente acordá-la. Ela virava-se, resmungando, querendo crer que ainda não era hora. Mas como de praxe, o delicioso contorcer de membros e a frequente mudança de decúbitos não duraram muito até tocar o maldito despertador, que mais desperta a dor do que qualquer outra coisa.
Levantou-se com pouca roupa e descabelada, e dirigiu-se ao banheiro. Fez xixi, escovou os dentes, tirou as remelas dos olhos. Trocou-se e saiu rumo ao trabalho.
Pediu um de sempre na cantina do escritório e foi até sua sala. Montes de processos aguardavam-na sobre a mesa e sobre eles, um desagradável bilhete amarelo: "prazo até próxima segunda". Tomou seu expresso e fez o que já fazia há vinte anos.
Fim do expediente. Rumo à casa, parou em uma mercearia. Refeição do dia: lasanha pronta e congelada.
Comeu, alimentou o gato. Foi até seu quarto e da janela avistou famílias e amigos e amores e crianças e vira-latas e bicicletas e carros e luzes diversas. Atirou-se de um vão não mais pequeno, por onde entraria já não mais fresta, mas sim grande feixe de luz, que por mais grande que fosse, não acordaria mais, jamais.
Levantou-se com pouca roupa e descabelada, e dirigiu-se ao banheiro. Fez xixi, escovou os dentes, tirou as remelas dos olhos. Trocou-se e saiu rumo ao trabalho.
Pediu um de sempre na cantina do escritório e foi até sua sala. Montes de processos aguardavam-na sobre a mesa e sobre eles, um desagradável bilhete amarelo: "prazo até próxima segunda". Tomou seu expresso e fez o que já fazia há vinte anos.
Fim do expediente. Rumo à casa, parou em uma mercearia. Refeição do dia: lasanha pronta e congelada.
Comeu, alimentou o gato. Foi até seu quarto e da janela avistou famílias e amigos e amores e crianças e vira-latas e bicicletas e carros e luzes diversas. Atirou-se de um vão não mais pequeno, por onde entraria já não mais fresta, mas sim grande feixe de luz, que por mais grande que fosse, não acordaria mais, jamais.
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