quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Sobre amores e monstros

E então, o estranho chega.
Cheio de mimos, floreios, amores.
E a conquista segue sem freio,
Sem saber que feita, chegam as dores.
As dores de não haver mais conquista,
Ou de ver por outro ponto de vista
Aquele estranho que se conhece há tempos,
Mas se mostra estranho em novos momentos.
Não tão novos quanto se queria,
Pois de novo aqui, nada existe.
O novo que então não se via
É o monstro que chega e persiste.
E ele grita, grunhe, resiste,
Por mais que se queira amansá-lo.
Pois saiba que para mudá-lo
Será necessário ser triste.
Ser triste, pois corrói por dentro,
Lutar e ir contra o velho.
E o estranho que foi num momento
É agora a face no espelho. 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Dos dias de ontem

Ela trabalhava, lembrando-se de uma época então já tão longínqua, ainda que bem recente. Lembrou-se da rotina, do roteiro, do receio... Do passado tão presente, dos discentes, dos docentes.
Lembrou-se que às segundas pegava o ônibus e jantava na padaria e que às quartas sequer jantava, pois não dava tempo.
Às sextas, chegava tarde das aulas de circo e nadava desnuda em noites quentes.
Pegava o ônibus pela manhã, mas às vezes faltava por ter sono.
Comia macarrão instantâneo, mas às vezes dormia por ter fome.
Dormia acompanhada, depois de certo tempo. Ora aqui, ora acolá, ora em qualquer lugar.
Quando tinha dinheiro, almoço na feirinha e quando muito quente, sorvete na cantina.
A roupa do dia era da cor que quisesse e de todas possíveis. Calça larga, camiseta e suor.
Suor de um sol tão escaldante e de um céu tão colorido. Suor de aulas tão difíceis e de um corpo tão doído.
Noites em claro, estômago revirado, dores de cabeça e aula prática. Ressacas de festas iradas e noites viradas.
Amores de cada dia, de todos os dias. De dias que não se quer lembrar.
Amigos tão presentes, tão pra sempre, que o pra sempre não verá.
Novos dias hão de vir. Nova rotina e roteiro e receio. E passados e presentes e discentes e docentes.
Só não vem o que já foi.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

1, 2 e fim

E de repente, o tempo para.
Sem anunciar, sem analisar.
Que no nosso tempo, o fim não existia.
E nesse novo tempo, quem não existe somos nós.
Maldito seja o tempo!
Que segue e une e afina e desconstrói.
E essa corda que não para e no fim a dor me rói.
Une e afina, pra depois desafinar.
O que o tempo não me conta
É que me dá pra então tirar.
Tirar o tempo bom de minha lembrança
E me fazer chorar feito criança.
No tempo de criança, tudo era bem mais simples.
O tempo passava e nem se percebia.
Agora o velho tempo é um tanto traiçoeiro
E hoje, neste instante, tira então minha alegria.
Oh, tempo maldoso, fonte de agonia,
Desata os nós d’alma, onde então nada se via.
Para a dor, para o choro, para até meu sofrimento.
Só não para, por favor, a beleza de um momento.
Um momento doce e belo que durou mais que momento.
Não transforma, por favor,
Tal beleza em sofrimento.
Para o doce, para o belo.

De repente, o tempo para.