domingo, 26 de agosto de 2012

Fôlego

No ouvido, uma reprodução aleatória. Ao seu redor, puro silêncio. Talvez não puro, ouvia-se os ruídos do parque, as respirações alheias, os passos rápidos e o voar do vento. Puro mesmo era o silêncio de dentro. Dentro de si, nada se ouvia. Ao mesmo tempo, o desespero era gritante.
Corria sem ter onde chegar. Sem ter um foco no olhar. Só corria, e corria, e corria. Seus joelhos fraquejavam e, ainda assim, corria. Corria como se fugisse de alguém, e fugia. Fugia de algo, fugia do mundo, fugia de todos. Fugia mesmo era de si.
Mas de si não se foge, mesmo se quiser. E gritava, sem emitir nenhum som. Gritava tão alto e nada se ouvia, ninguém ouvia, ninguém queria ouvir. 
O vento batia contra o seu rosto, o suor escorria por suas têmporas, o batimento cardíaco rápido e a respiração ofegante. Seus frágeis joelhos já não aguentavam. E corria, corria, corria cada vez mais rápido, e jamais chegava onde queria. Onde queria? 
Seu rosto já se avermelhava como o sol de fim de tarde. Sua boca já não se umedecia por nada no mundo e suas bochechas queimavam de tão quentes. Suas pernas formigavam.
Seu ritmo ralentava aos poucos, como que cedendo ao que o corpo pedia. Suas pernas começavam a bambear, cessando o movimento. Seus braços iam cedendo. O peso. Para baixo. Seus ombros relaxavam-se, gradualmente. Logo, parou. Respirou. Recuperou. O. Fôlego. Apoiou. As mãos. No joelho. E então. Colocou-as. Na face. E chorou.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Breve (re)caída

E mais uma vez, a queda é brusca. Mas não mais machuca como antes.
A verdade é que quando se cai muitas vezes, se aprende a cicatrizar.
O lado bom da história é a carcaça que aprendemos a criar.
Não sentir, no entanto, é o que realmente me apavora.
Nessa vida de sentidos, não sobrevive quem não chora.
Força, palavra que não se resume em não chorar.
Engloba, porém, tudo o que se sente sem desmoronar.
Cai, cai, balão. Cai longe daqui, que aqui não é bem-vindo.
Cai, cai, balão. Cai, cai, cai, cai, cai, cai, mas levanta e vai seguindo.