quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Cinzas de ontem

Deu-lhe um beijo breve, seco e insípido. Agiu com indiferença e conformidade, demonstrando submissão incomparável, infelizmente. Seria infinitamente mais fácil se ele retrucasse, respondesse e reagisse, mas não. Não, permaneceu calmo, com o tom brando e as atitudes sutis, subjetivas, no entanto.
Ela não conseguia organizar o que se passava em sua mente e, muito menos, dizer algo suficientemente adequado. A verdade é que nada do que ela dissesse em uma situação daquelas pareceria conveniente.
Não que seu deslize fosse de tamanha malícia, maior do que isso era o seu desejo de distrair-se, ocupar as lacunas que, por ora, ele causava, receber a atenção que ele deixava a desejar. Não era traição, entende? Foram meras palavras jogadas ao vento, que voavam e retornavam repletas de graça do ser que estava distante.
O silêncio? Talvez medo de causar intriga, maldita denúncia de consciência do ato supostamente incorreto. Para que contar o que se passava se era algo consideravelmente irrelevante e que não carregava significado algum?
Pois bem, deu no que deu. Calou-se diante de indagações por não ter o que dizer. Deveria ter dito antes, realmente. Mas o tempo é maldoso, passa e jamais volta. E o que ocorre em seu decorrer permanece em seu dinamismo até virar pó e voar sem que jamais se reconquiste.
Deu-lhe um beijo breve, seco e insípido. Agiu como se fosse o último, infelizmente.

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