Lorena era loira, com a pele branca angelical de quem tem o dom da beleza. Olhos penetrantes, azuis como o céu de Brigadeiro. Alma inocente, ingênua como uma criança que diz que a tia está gorda.
Catarina sempre foi morena, mas tinha a recente vontade de ter o cabelo roxo. Tinha dores de mundo e revoltas de alma. Possuía fases que ninguém decifrava, como quem muda a cor do quarto de rosa para preto.
Tinham o mesmo endereço, mas não o mesmo lar. Encontraram-se no acaso diário da vida, enquanto ainda eram ambas ingênuas, mas certamente crianças.
Conservavam a frequência de presença e cultivavam a convivência. Era como se destinos distintos formassem um só.
Eram duas meras crianças, daquelas que aproveitam o tempo para explorar. Exploravam juntas os botões do elevador e o terraço proibido.
Cada uma tinha quatro avós e quatro avôs. Até o dia em que esse número diminuiu.
Catarina esteve com ela quando o seu pranto condisse à perda. E de alguma forma, em sua vez, Lorena esteve também.
Se alguém procurasse por Catarina, deveria antes, encontrar Lorena. Eram sempre duas.
Hoje já não têm o mesmo endereço e nem o mesmo lar. Há contrastes, mas mantém-se o brilho.
Por conflitos de vida, criaram mundos diferentes, mas unem-se na lembrança e brigam pelas bonecas mais bonitas.
Recordam-se da infância puramente apreciada, na qual assunto era o almoço de cada dia.
Continuam sendo a presença desejada do dia de aniversário e o convite extra do baile de formatura.
Tiveram em comum a infância. E assim garantiram o resto da vida.
Ainda quando querem brincam de boneca.
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