Assim que chegou em casa, verificou a secretária eletrônica. "Você não tem novas mensagens", a máquina dizia com certo descaso. Num suspiro cansado, ela deixou a bolsa sobre a mesa de canto e as chaves na fechadura.
Pegou o telefone, hesitante. Sentou no sofá e folheou as páginas da agenda. Fechou a agenda e colocou o telefone no gancho.
"Não vale a pena", pensava consigo mesma.
O fato é que Laura se tornara um tanto orgulhosa. Não se renunciaria a tão pouco, não mais.
Ele a deixava sempre em segundo plano, como se ela fosse algum tipo de objeto dispensável. Só lhe tinha, com a necessidade execrável de conveniência. Em qualquer tipo de crise existencial ou conflito pessoal, recorria-lhe o auxílio.
Porém, nas horas em que ela recorria-lhe o prazer da presença ou a rara convivência, ele parecia abstrair sua importância.
E ela ansiava a chegar em casa, para sentir aqueles instantes de plenitude. Aquele momento do dia, em que ela não sentia falta de si. Tornara-se rotina chegar em casa e logo ligar para ele. Em uma ligação, estremecia ao ouvir sua voz. Sentia-se recompensada por um dia inteiro de trabalho.
Sentia-se, por ora, como um cachorrinho. Mas convencia-se de que ela é quem estava sobre o controle das rédeas.
Ela, ainda sentada no sofá, recordava-se dos bons momentos, de quando o namoro ainda era novidade. Tudo o que é recente dura por certo tempo. Até se tornar obsoleto demais para continuar existindo.
Ele era, outrora, um verdadeiro encanto. Aos poucos, a intimidade fez cair as máscaras. Mas ela sempre esteve lá, à distância de uma única ligação.
E ela adorava.
Pegou o telefone, discou o número.
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