segunda-feira, 1 de março de 2010

Passividade tropical

A quantidade de mortos, feridos e desabrigados pela tal catástrofe no Haiti, ao certo, não se sabe. Porém, relatos da notícia chegam às nossas casas diariamente, já não mais trazendo o ar de novidade. A mídia, constante e indevidamente, alerta sobre esse assunto, causando nas pessoas, não o desejo de cooperar, mas sim o desinteresse pela manchete diária. Transmite a sensação de impotência e desesperança, que é cada vez mais usada pelos brasileiros como justificativa para se manterem focados em sua rotina.
A distância, não só a literal, mas também aquela que passa a impressão de que é uma situação inexistente no convívio dos sul-americanos, acaba fazendo com que os mesmos, em meio ao seu egoísmo, fiquem despreocupados e acomodem-se.
São raras as campanhas atuais formadas a fim de ajudar às vítimas da tão falada catástrofe. Com tantos conflitos mundiais, se tornam poucos e insuficientes os recursos direcionados especificamente ao Haiti.
Enquanto tecnólogos refletem sobre a possível construção de um trem bala até 2014, membros da ONU definem papéis em ações de ajuda ao país desestruturado.
Tudo antes sólido e concreto caiu em pedaços, sem sequer aviso prévio, deixando os haitianos sem qualquer bem material. Como tudo o que era sólido, o abstrato construído em anos de existência também deixou de existir, assim como quem o conquistou.
Mães choram pela perda de seus filhos e crianças não sabem o paradeiro de suas mães. Sem ter o que comer, fazem literalmente da terra o seu alimento.
E toda a tristeza e sofrimento são expostos entre a reportagem sobre spas caninos e aquela sobre a dieta mediterrânea.
São esses e outros aspectos que acabam gerando o desinteresse gradual por Fátima Bernardes e William Bonner.
A situação caótica desse acontecimento, em outras formas, é vista em qualquer lugar do planeta, seja em questão econômica, política ou social. É como se o Haiti estivesse aqui, ou logo ali. É dessa forma que o famoso Caetano Veloso deixa o seu ver da situação. Para aqueles que não enxergam metaforicamente; não, claro que o Haiti não é aqui. Mas ainda assim, é logo ali.

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