"O Felipe deixou de trabalhar", ela me disse.
"Com tantas pessoas dispostas a conseguir um emprego, ele simplesmente desistiu. De um emprego bom, que garantia diversos recursos. Tinha convênio, vale transporte, cesta básica. Nunca vi alguém preguiçoso como Felipe, não sei de quem ele herdou tamanha preguiça, com certeza de mim é que não foi. Acordou e simplesmente pediu as contas. "Não quero mais, meu amigo me arranjará outro emprego ano que vem", ele dizia com a maior naturalidade do mundo. Nunca peguei um centavo de seu ordenado, nem para pagar suas próprias contas, mas o fruto do meu décimo terceiro nem cheguei a ver.
O tanto que já chorei esta manhã é indizível. Não sei mais o que faço.
Se um dia Renato quiser mudar-se daqui, creio que deixarei Felipe. Ao menos assim ele aprende a se virar. Claro que ele não vai se esforçar comigo aqui, pagando suas contas e passando-lhe a mão na cabeça.
Ele não faz nada além de maltratar-me. Fuma como uma chaminé e dorme o dia inteiro.
Chega tarde, quase cedo, e é motivo frequente das minhas lágrimas."
Eu ouvia minha tão querida tia a lamentar-se, sem saber o que dizer. Concordava com a cabeça e com a cara mais sem graça que alguém já teve em uma situação assim.
Procurava consolá-la, mas que tolice. Não encontrava uma palavra capaz de fazê-lo.
Via seus olhos inchados, chorosos. Sua expressão demonstrava demasiado cansaço.
Tudo o que eu mais queria era tirar-lhe a dor.
Não era a primeira vez que isso acontecia.
Uma alma de boa fé, que reza frequentemente pelo bom comportamento de seu filho, assim como pelo bem de todos ao seu redor.
Às vezes, procurava sem sucesso, algum motivo pelo que ela estava passando.
Sempre mimou-o por ser órfão de pai, talvez esta fosse a razão.
Não podia culpá-la, creio que faria o mesmo.
Chegamos em sua casa, despedi-me e ajudei-a com as compras.
Um grande sentimento de compaixão instantaneamente inundou-me.
E então, fui para casa.
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